quarta-feira, novembro 30, 2011

Crónica dos Imigrantes 27 Novembro 2011

Para esta nossa saída, a meteorologia presenteou-nos com um dia de primavera neste final de outono. A escolha do destino para o programa esteve bastante indefinida mas, após algumas vicissitudes e contratempos, a escolha recaiu sobre a Cadeia da Relação / Centro Português de Fotografia que se localiza no jardim da Cordoaria.
Marcamos o encontro para S Cirilo às 14h30. Todos foram pontuais (voluntários e utentes). Ainda nos demoramos um pouco a conversar com um utente, acompanhante habitual destas nossas saídas, mas que, por estar doente, não pode, desta vez, estar connosco.
Saímos em direção à Cordoaria, em amena cavaqueira, pois já todos os participantes se conheciam, o que facilitou a comunicação e a interação.
Neste edifício do século XVIII, estão presentemente quatro exposições, duas permanentes e duas temporárias. As duas permanentes, uma de máquinas fotográficas representantes da evolução desta arte, onde se encontram muitas dezenas de marcas e modelos de câmaras e uma outra sobre a Cadeia da Relação, algumas das personalidades que ali estiveram detidas e, também, de detidos anónimos. Nas exposições temporárias, também de fotografia, uma é de divulgação dos Novos Valores da Fotografia Espanhola, em que o tema principal é a obra de Juantxu Rodríguez e as suas fotografias do mundo, principalmente uma visão particular sobre uma importante parte da sociedade norte-americana, e a outra do trabalho de Marín, cuja obra atravessa a primeira metade do século XX. José Miguel Ferreira apresenta-nos as suas fotografias subordinadas ao tema o Douro Vinhateiro.
A visita correu bem e todos os participantes gostaram, não só pelas exposições, mas também pelo edifício que está intimamente ligado à história política do Porto desde o Marquês de Pombal até ao início do Estado Novo.
O regresso foi um pouco mais monótono, dado que alguns dos participantes são utentes externos de S Cirilo e após a visita foram diretamente para as suas residências e não nos acompanharam.
Tudo correu bem, foi uma tarde bem passada.
Manuel

segunda-feira, novembro 28, 2011

Crónica da Ronda de Santa Catarina – 20.11.2011

A MINHA CASA É(RA) A RUA

Sábado, 8h30. A manhã está fria. A Baixa do Porto está deserta. Os primeiros autocarros circulam nas paragens ainda desertas. Vagueiam alguns noctívagos. Apressam-se os comerciantes para abrir as lojas e ajeitar as promoções nas montras, que o negócio já conheceu melhores dias.
Do outro lado da rua, na Praça D.João I, o senhor J., apoiado na sua bengala, está à nossa espera. É dia de ir ver um "quartinho". "Não quero fazer má figura", desabafou connosco dias antes de marcarmos a visita – que preocupação a de quem dorme na rua há anos.
"Não se preocupe com isso", garantimos. Nada que uma camisa, uma camisola e um bom banho quente não resolvam.
Rumo ao balneário público do Campo 24 de Agosto. "Bom dia. São 35 cêntimos pelo banho. Se desejar sabonete e toalha são mais 75", responde um rosto fechado e de pouca simpatia do lado de lá do vidro da recepção.
Por aqui passa "todo o tipo de gente", vai comentando Dona F., que à medida que parece confiar em nós deixa cair histórias. "Vêm aqui duas irmãs, que têm uma boa casa, mas preferem tomar banho aqui. Dizem que fica mais barato e não têm que limpar", ri-se.
Fossem todos os clientes como elas, pensa em voz alta. "Deus me perdoe, mas romenos e ucranianos. Deixam tudo sujo e só arranjam problemas", grunhe entre dentes.
"São da Cáritas?", questiona. "Porque tenho lá uns edredons em casa , se quiserem…", continua – mais tarde ainda nos tenta impingir também umas cortinas que estão lá em casa a estorvar . Agradecemos. Toda a ajuda é bem-vinda, mas preferimos o edredon às cortinas, explicamos gentilmente sem querer ferir o espírito solidário.
9h30. Barba feita, cabelo alinhado com risca ao lado, camisa aos quadrados e pólo a condizer. Ganhou anos de vida. Parece outro. Vaidades à parte, é tempo de ir ver o quarto.
É a própria senhoria que abre a porta e faz a visita guiada. Cabelo apanhado, rosto jovem, sorriso rasgado, discurso rápido e fluente. "Bom dia, senhor J., vamos então ver o quartinho? Olhe que são quatro andares!", avisa. "Em Lisboa, subia bem quatro andares", exclamou o senhor J., que conta mais de meio século de vida e alguns anos a dormir nas ruas de Lisboa e Porto. E subiu, sem pestanejar, enquanto a Dona S. foi obrigada a fazer uma paragem forçada, que isto da asma ataca novos e velhos.
O "quartinho" está em remodelação. "Estou a substituir a cama de casal por uma de solteiro para ficar mais confortável", disse despachada. "E, olhe, até tem televisão para se distrair", continua. Corrida rápida ao WC e cozinha partilhados. Num discurso rápido e despachado lá vai explicando as condições do alojamento e as regras da "casa": fumar só na varanda e nada de barulho à noite porque isto "é um local de respeito".
"Então, gosta do quartinho?", pergunta? – seguramente que o senhor J. só ouviu palavras soltas da Dona S. E poucas trocaram. Também não era preciso. O olhar e sorriso expressivos deste senhor de barba e cabelo grisalhos conquistaram a jovem senhoria, que já "aturou de tudo na pensão" e recebe os novos hóspedes de braços abertos, mas de pé atrás.
De palavras parcas e discurso desalinhado senhor J. deixou escapar, em voz embargada, aquilo que nós, voluntários da ronda, e, seguramente de outras rondas, gostaríamos de ouvir mais vezes: "Eu fico com o quarto. Não quero ficar na rua!".
A rua era a casa do senhor J.

PS: E porque as rondas se fazem de histórias como esta, damos as boas-vindas ao novo voluntário, o L. (pode não querer ser identificado). Contamos contigo para escrever os próximos capítulos da ronda de Santa Catarina.

Ana Oliveira

quinta-feira, novembro 24, 2011

Crónica do FasImigrantes 12 de Novembro 2011

Chegamos a S. Cirilo pelas 14h30 prontos para preparar o Magusto para os utentes.
Foi a primeira saída com os novos voluntários da vertente, onde eu me incluo, e por isso começamos devagarinho. Primeiro ficamos a conhecer quem trabalha em S. Cirilo. O Sr. V., que diz que não quer que lhe chamem Sr. porque no bilhete de identidade dele diz antes J.! Foram os primeiros rostos que vi em S. Cirilo e senti-me instantaneamente acolhida.
Como éramos um grupo de muitos voluntários novos a Valentina aproveitou que poucos utentes estavam em S. Cirilo à nossa chegada e mostrou-nos as instalações. Que espaço agradável e bonito!
Depois disso, mãos à obra!! Tinha de se pôr o fogareiro a postos para as castanhas, tarefa que se revelou algo difícil por causa do vento, mas que com a ajuda de todos e em particular do David – já com a experiência do fogareiro do magusto passado – e do Sr. V. o carvão lá começou a arder e pouco depois já tínhamos castanhas "quentes e boas"! Entretanto tínhamos de preparar a mesa do lanche, com o lanche oferecido por S. Cirilo e os mimos que nós levamos. Era também preciso organizar as fotografias das visitas anteriores para as colar numa cartolina que foi posta à entrada de S. Cirilo para todos os utentes verem e eu cá acho que ficou muito bonita – não, não por ter ajudado a fazê-la!!!
Entretanto o tempo ia passando e os novos voluntários do grupo iam-se conhecendo enquanto os utentes não chegavam. Apareceu também uma voluntária da vertente das famílias para partilhar connosco o magusto e algumas ideias de projectos. Mas utentes… Lá ao fim de algum tempo começaram a aparecer, poucos, mas muito simpáticos e que acabaram por fazer a festa connosco, alegrando e muito o magusto que preparamos.
No fim, quando já todos nos tínhamos divertido muito arrumamos tudo como estava e despedimo-nos com a promessa de voltar dia 27 de manhã para uma visita ao Museu Militar! Despedidas feitas, cada um foi para seu lado. A mim calhou-me escrever a crónica, o que muito me agradou, visto ser a minha primeira experiência, mas também por isso me deixou algo apreensiva, com medo de não saber como fazer!

Teresa Nunes

terça-feira, novembro 22, 2011

Crónica das Aldeias 19.11.2011

11 horas da manhã, ponto de encontro no Millenium, para fazermos as habituais visitas às nossas "Aldeias", Ansiães, Candemil, Basseiros e Bustelo.

Que maravilha voluntários novos: A mais novinha a Joana, M. Manuel e o Belarmino, sejam bem vindos.

Depois das apresentações e dos cumprimentos, lá nos dividimos pelas viaturas e partimos rumo às Aldeias.

O encontro para o almoço foi na Casa da Catequese, pois como no dia anterior choveu, os nossos locais habituais (parque das merendas ou atrás da igreja) não estavam próprios para o mesmo. Aqui encontramos a Natércia e depois mais tarde a Florbela.

A Carminda foi a que fez a oração de agradecimento e depois, começamos a petiscar as diversas iguarias que cada um levou (não as vou descrever para não vos deixar água na boca).

No final do pic-nic a Carminda deliciou-nos com um belo poema de Mafalda Veiga - "O Velho", que aqui vos deixo para compartilharem connosco:

Velho

Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado

Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

De seguida lá fomos tomar o nosso café ao local do costume e agora sim partimos às nossas visitas.

A visita que vos descrevo é a Aldeia de Bustelo com a Nanica, Florbela e Augusta.

A primeira casa a visitar foi a do Sr. Lima (que com franqueza estava com receio de o já não encontrar) pois na última visita estava acamado e bastante doente. Mas, graça a Deus, ainda está com vida, continua acamado numa cama articulada de ferro, para ser mais fácil o seu tratamento. A visita foi muito rápida a pedido da sua esposa, claro que foi mesmo para o cumprimentarmos e perguntar se precisava de alguma coisa.

A segunda casa a visitar seria a da D.Fernanda, mas não estava, os vizinhos disseram que talvez não demorasse mas, o certo é que não veio.

Fomos então, a casa da D. Emilia viúva do Sr. Aurélio. Desta vez, recebeu-nos dentro de casa, pois estava à lareira acompanhada pela filha.

D. Emilia pouco fala só escuta, pois teve um AVC e tem dificuldade em falar e andar. Como estamos a chegar ao Natal, falamos das diversas ementas alosivas e de como era festejado o Natal antigamente. O tempo passou rápido e terminou a visita com muita pena nossa.

A próxima visita foi a D.Maria, lá estava ela no cimo da escadaria, na entrada da sua porta, sentadinha como do costume na sua cadeira. Como estava frio, por cima do seu pijama de cor laranja, tinha vestido um casaco de malha, cobertinha com um cobertor fofinho e com luvas, ai ninas toda quentinha. Estava preocupada com dinheiros de terrenos que o filho/nora tinham recebido e as conversas foram á volta desse tema. E sem quase darmos por isso o tempo da visita terminou pois ainda tinhamos que ir ver a irmã da D. Maria a D. Celeste.

Ùltima visita D. Celeste, recebeu-nos na sua cozinha com o fogão de lenha acesso, hum que agradavel que lá se estava com a presença do marido. Bastante debilitada, pois teve recentemente um AVC, mas bem disposta. Falou-nos das peripércias que passou nos diversos hospitais por onde esteve aquando da sua doença. Também o tempo passou rápido e assim terminou a visita.

De regresso ao nosso ponto de encontro, já estava a ficar escuro e a chover, para lanchar o que restou do pic-nic.

Mais uma vez agradecemos a vinda dos novos voluntários e despedimo-nos até à próxima e um muito obrigada a todos.

Agora me despeço com esta simples frase "O tempo escasseia mas a vontade de vir é imensa!"

Maria Lurdes Ferreira – Bustelo

domingo, novembro 20, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 06.11.2011

Foi com palavras como "Spaceba" e outras que tentamos noite após noite rever-te uma cara triste numa cara com um sorriso puro e sereno que conjuntamente partilhamos em dias de chuva, frio ou até mesmo de calor…

O frio bem que tentou gelar-nos o corpo… conseguiu, mas a alma manteve-nos bem quentes para mantermos a nossas calorosas conversas com o Sr. F., V. Sr. M, os irmãos L. e J. e M.

N. e C. mantém-se afastados… este silêncio que nos mata a cada Domingo, que ganha significado cada vez que um "falso" sono se apodera deles nos últimos 2 meses e nos atinge pela ausência amiga que sentimos… Sim claro, porque também sentimos e vivemos as suas ausências de Domingo que, duramente, se prolongam até ao próximo e próximo e próximo Domingo em que os revemos!

Expectativas, esperança e saudades… sentimentos muito presentes em mim voluntária de rua…

Sabina Martins

domingo, novembro 06, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 09.10.2011

De certo que não é a primeira vez que nos deparamos, ou já ouvimos falar, de situações em que uma pessoa que visitamos não nos aparece no domingo à noite porque, infelizmente, foi internado no hospital...Foi o que aconteceu ao nosso amigo O..
Ao longo das nossas visitas notamos que o seu estado de saúde ia piorando, embora estivesse a ser acompanhado por um médico. Deu então entrada no Hospital de Sto António por complicações causadas pelos diabetes.
Entretanto um dos elementos da nossa ronda foi averiguar o que se tinha passado e foi então que soubemos a má notícia de que lhe tinha sido amputada uma perna. Curiosamente, O. estava com boa cara, numa visita que lhe foi feita, embora preocupado com o futuro. Em duas semanas recebeu apenas duas visitas...
Embora não sabendo como vai ser este novo capítulo da sua vida, certamente será muito complicado e ainda mais pelo facto de não ser português e de ter apenas, que se saiba, dois amigos em Portugal que tal como ele vivem na rua e, por essa razão, não poderão ajudar tanto quanto com certeza queriam.
Esta situação pôs-me a pensar que muitas vezes damos a nossa saúde por garantida, não imaginando que de um momento para o outro isso pode mudar, e que mesmo que mude contamos com o apoio da família e amigos. Mas existem muitas pessoas que não têm este apoio e assim, resta-nos a nós, ronda da batalha, fazer o que podermos para o apoiar o nosso amigo O..

Pia Garrett

Crónica da ronda da Areosa 23.10.2011

A irracionalidade, de um ser humano racional (porque acredito que os há sem racionalidade), leva-o a pensar que todas as partidas (ou ensinamentos) da vida só a ele acontecem, e facilmente se torna num coitadinho, quando se olha ao espelho. O bem-estar não depende da sua evolução ou crescimento como Homem. Ele quer é o telemóvel X, o carro Y, as férias Z e etc... quer estar bem, quer ser feliz, e refugia-se num sofrimento estúpido pela ausência de bens materiais.

Domingo, são 21h00
A chuva e o vento falam comigo através do som das persianas... noite difícil pela frente...
A manta e o conforto do sofá fizeram uma ultima tentativa, mas resisti e saí...
Saio de casa a correr, um pouco atrasado e com a consciência que o tempo não está para acelerações. No ponto de concentração sou invadido por um pensamento que logo se vai embora "Estava bem era em casa, aconchegado pela manta" (era o meu lado irracional a tentar revelar-se)

Um dia abordaram-nos, e acusaram-nos de sermos cúmplices de um estado que tem interesses na existência dos sem abrigo, ao estarmos ali contribuíamos para que aqueles que visitamos se acomodassem, e que era o nosso egoísmo a falar mais alto, porque só o fazíamos para nos sentirmos bem.
Pensei sobre isto durante algum tempo, e ainda hoje não sei que interesses o estado tem, percebo a ideia que as pessoas se podem acomodar, e sim sou egoísta porque realmente me faz sentir bem. Sou egoísta ao ponto de partilhar o meu tempo, as minhas histórias, a minha forma de pensar e de estar na vida com alguém que tive de conquistar, e que me conquistou. Sou egoísta ao ponto de dizer que esse Domingo teve um sabor especial, e que me senti muito bem por ter "abandonado" o conforto.
Sou egoísta, porque quando regressei após ausência de dois domingos soube-me bem ouvir: "Andou desaparecido, já não falamos há muito tempo..."
Não é só o saco com os alimentos, são as pessoas, é a relação que se cria e a falta da mesma que me faz ser egoísta.

Nesse domingo, vi sorrisos apertados pelo frio... nesse domingo vi realidades que ninguém merece e que muita gente ignora ou desconhece... nesse domingo vi pessoas à nossa espera, na ânsia de falarem um pouco... nesse domingo, o meu egoísmo fez-me sentir o quanto é ESPECIAL a minha cama.

Um dia gostava de ter o telemóvel X, o carro Y e as férias Z... mas não abdico do meu crescimento como Homem para lá chegar...
"Sê a mudança que queres ver no mundo" – Gandhi

Gonçalo Oliveira

terça-feira, novembro 01, 2011

Crónica das Aldeias – 22.10.2011

Na minha primeira visita após o período de férias, por muitas voltas que o mundo dá e que se reflecte no que acontece nas nossas vidas, acabei eu a escrever esta crónica.

Tudo começou, como habitualmente, em frente ao Millenium da R. Nossa Senhora de Fátima, um pouco depois das 11 horas (o que, dados os constantes atrasos, motivou que se decidisse que, a partir desse momento, se passaria a ter como horário as 11h30!).

Rumámos a Candemil para almoçar no jardim atrás da igreja, aproveitando assim o Sol e o calorzinho de final de Outubro. Dos petiscos salgados e doces, das frutas, dos sumos e da água que compuseram esse almoço sobrou muito pouco, mas nada que pusesse em risco o lanche típico do final das visitas.

Após este período de descanso (será que alguém já se sentia cansado?) foi tempo de decidir como nos iríamos dividir, tendo em conta o número de voluntários por aldeia e os condutores dos carros disponíveis. Lá tive eu de abandonar a minha aldeia (Bustelo) e abraçar a minha aldeia “adoptiva” (Basseiros) que, por todo o tipo de diferentes circunstancias, já foi “minha” inúmeras vezes. Não foi desta que matei saudades das senhoras de Bustelo (e senhor, pois não posso esquecer o Sr. Lima)…

E aqui começou uma jornada inglória. Batemos na primeira porta e nada. Na segunda e nada outra vez. Na terceira, adivinhem… nada… no caminho para a quarta, encontramos quem nos informasse que uma senhora estava em França, outra estava em casa do filho que tinha chegado de França e que a outra deveria também deveria estar em casa do filho. Acreditando nisto, todas estarão bem. Melhor assim!

Na quarta casa, da D. Dulce, lá estivemos à conversa com o seu marido e filha, a correr Portugal de uma ponta à outra, com o Governo sempre como tema de fundo. E, quando parecia que tínhamos todo o tempo do mundo por não termos visitado ninguém antes desta casa, o tempo voou e corremos para a última casa.

Na última casa, última desilusão, pois foi mais uma visita que não pôde acontecer, que ainda foi pior por termos visto a D. Arminda na varanda da casa do filho, sem que nos fosse permitido falar com ela. A sua filha ainda nos disse que ela estava bem, mas nada fez para que a pudéssemos visitar.

Terminaram assim as nossas visitas (ou deverei dizer, a nossa visita) e fomos para Bustelo encontrar o resto do grupo.

Foi a minha vez de perceber que este encontro final, onde até aqui eu achava que servia apenas para nos despedirmos, serve para percebermos que se num sítio algo corre mal, temos 3 outros sítios onde acontecem visitas totalmente diferentes, onde todos os nossos senhores estão bem, estão presentes e estão felizes por nos verem.

Acredito que todos passamos por momentos em que nos questionamos se vale a pena, mas penso que todos terminamos sempre com a certeza que sim. Se hoje foi mau num sítio, certamente foi bom noutro. Se hoje não pareceu tão produtivo, certamente parecerá na próxima visita.

E lá estarei eu para o comprovar!

Nanica - Basseiros